O Japão, outrora considerado estável, revela agora vulnerabilidades sistemáticas preocupantes. Com taxas ultra baixas e uma bolha obrigacionista silenciosa, o país pode ser o ponto de partida da próxima crise global. Quais ativos se revelarão seguros nestes tempos incertos?
Uma crise financeira começa sempre num local específico. Em 2008, foi o banco Lehman Brothers que arrastou todo o setor bancário americano, desencadeando uma recessão mundial. Hoje, todos os sinais indicam que o Japão poderá ser o próximo elo fraco do sistema financeiro internacional.
O cenário é particularmente sombrio para a economia nipónica:
Mas o verdadeiro perigo situa-se no mercado obrigacionista japonês, que está atualmente sob uma pressão sem precedentes. Em maio de 2025, os rendimentos das obrigações governamentais a 30 anos ultrapassaram os 3%. Os das obrigações a 40 anos atingiram 3,6%, um recorde histórico. Esta tensão no mercado obrigacionista poderá ser a primeira peça de dominó de uma longa série. É uma verdadeira bomba-relógio económica que ameaça sangrar as carteiras cripto, obrigar os bancos centrais a aumentar as suas taxas e mergulhar o mundo numa recessão comparável à de 2008.
Para compreender a dimensão do risco, é preciso rever o mecanismo do “yen carry trade” que moldou a economia mundial nas últimas duas décadas.
Durante 17 anos, as taxas de juro do Banco Central do Japão (BOJ) permaneceram próximas de zero, ou mesmo negativas. Esta política monetária ultraflexível criou uma oportunidade de arbitragem massiva para investidores de todo o mundo:
Este mecanismo, aparentemente sem risco, foi explorado massivamente pelos hedge funds, bancos e fundos de investimento de todo o mundo. Milhares de milhões de ienes foram assim emprestados para serem investidos no estrangeiro. Isto criou uma bolha artificial mundial com um efeito de alavancagem considerável. Mas em 2024, o BOJ assinalou o fim da recreação ao aumentar as suas taxas diretoras para 0,25%. É um nível que pode parecer irrisório, mas que representa a taxa mais alta desde 2007.
É neste contexto que a Bitcoin e as criptomoedas emergem como uma alternativa credível ao sistema financeiro tradicional. Cada vez mais atores económicos, incluindo no Japão, estão a voltar-se para estes ativos digitais como refúgio contra a instabilidade do sistema baseado na dívida.
Vários desenvolvimentos recentes ilustram esta tendência:
Estas iniciativas não estão isoladas. Inscrevem-se num movimento mais amplo de questionamento do sistema financeiro tradicional. O fim do dinheiro gratuito marca o início de um novo modelo económico, com uma nova ordem monetária onde as criptomoedas poderão desempenhar um papel central.
Num mundo onde as moedas fiduciárias são desvalorizadas por políticas monetárias expansionistas e onde as dívidas soberanas atingem níveis insustentáveis, a Bitcoin surge como uma “arca de Noé digital” – um refúgio contra a tempestade financeira que se avizinha.
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